terça-feira, 24 de julho de 2012

Visita a Sidónio de Sousa


A história desta visita tem início no belo jantar de Novembro 2011, que contou com a participação da Decante Vinhos. O Dr. Pedro Ferreira desafiou-nos a visitar um produtor do portfolio da Decante e esta foi a escolha conjunta.
O dia começou atribulado na questão horários: saída tardia de Vila do Conde, problemas com despertadores na Maia e obras na VCI (Porto), foram os primeiros obstáculos a ultrapassar. Felizmente foram os únicos e a partir do momento em que o mini-bus parou em Sangalhos, na habitação e adega da família Sousa, tudo decorreu de forma a tornar esta visita memorável.

A empresa

O início da aventura teve início com o avô do nosso anfitrião e gestor global da empresa, Eng. Paulo Sousa. Vindo dos Estados Unidos na década de 30, adquiriu os primeiros terrenos e deu início à produção, vendida a granel ou para cooperativas. Este modelo continuou até à década de 80, quando a produção de vinhos teve uma pausa. Após a conclusão dos estudos em Engenharia Química e colaboração com uma empresa de produção de vinhos, a família teve no Eng. Paulo Sousa a pessoa certa para voltar a dinamizar a produção própria. O regresso teve tal sucesso que acabou por exigir a sua disponibilidade total.
A produção tem por base os cerca de 12 hectares de vinhas próprias, plantadas em solo argilo-calcário, em Sangalhos, região da Bairrada. As castas plantadas são as brancas Arinto, Bical e Maria Gomes e as tintas Baga, Merlot e Touriga Nacional. O resultado é cera de 70.000 garrafas anuais, entre espumantes e tintos.

A vinificação

Em termos de equipamentos principais, temos uma prensa pneumática, 2 lagares, várias cubas de inox e algumas pipas usadas de carvalho nacional. O Eng. Paulo Sousa partilhou alguns pormenores interessantes para os mais curiosos: o contacto nos rosés apenas acontece na prensagem (algumas horas), não adiciona leveduras no processo, os vinhos estagiados em madeira apenas descansam em barricas usadas (algumas com dezenas de anos) e os espumantes são todos bruto natural, entre outros.



A visita

Após uma viagem, nada melhor que uma bebida fresca e um acompanhamento ligeiro. E o gosto tão Português de bem receber teve início com os espumantes rosé e branco, com enchidos e broa a acompanhar. A qualidade da comida foi acompanhada de 3 espumantes frescos e delicados, com os rosés 100% Baga 2009 e 2010 bem adaptados para entrada e um branco 2010 feito de Bical, Arinto e Maria Gomes com complexidade e estrutura para uma refeição.
O ponto seguinte da agenda era a visita à vinha. Localizada a cerca de 5 minutos de carro, aproveitámos o bus para juntarmos todos os presentes e rumarmos ao local. Deambulámos a pé pela vinha, enquanto ouvíamos o Eng. Paulo Sousa e tentávamos perceber os limites dos 12 hectares. É uma sensação especial olhar para a planta onde tudo começa.

O regresso à base teve uma paragem para recolha do que seria o prato principal do almoço: Leitão à Bairrada. Como extra, tivemos oportunidade de ver os bem tradicionais fornos.
Antes do almoço visitámos a adega e aprendemos com as explicações do processo produtivo da casa.
Instalados no espaço destinado ao repasto, que apresenta óptimas condições, começaram as surpresas. A “entrada” foi uma magnífica cabidela de leitão, que deliciou todos os presentes, acompanhada por um aclamado e surpreendente espumante tinto super reserva de 1999, 100% Baga, num momento de forma notável.
O leitão teve honras de acompanhamento por alguns tintos da casa. Iniciámos pelo Sidónio de Sousa Reserva 2008, um baga fresco e estruturado, mas também arredondado, aprovado pelos presentes. Seguiram-se 2 vinhos Sidónio de Sousa Garrafeira, anos 2000 e 1997. Início pelo 2000, grande impacto, encorpado, estruturado, mas polido, complexo, excelente. Um primeiro contacto com a excelência que a Baga consegue atingir quando sabemos esperar pelos seu vinhos. Já rendidos ao 2000, os copo acomodam o 1997 e atingimos outro patamar. É um vinho a que se pode chamar néctar, enorme, carnudo, polido, hipnotizante. Ter o privilégio de o beber é levitar, experimentar sensações que só os vinhos de excepção nos proporcionam. Se o 2000 é um cartão-de-visita para casta, região e país, o 1997 ultrapassa-o e é um verdadeiro hino ao vinho.

Uma deliciosa aletria culminou este banquete e muito bem acompanhada. Surge um Merlot 2010, vinho mais consensual, redondo e muito agradável, mas sem perder a identidade da casa, com corpo, frescura e estrutura. Harmonizou muito bem e, no seu segmento, conquistou os presentes. Tivemos, também, a honra da companhia do próprio Sr. Sidónio de Sousa neste final de refeição.


O final

A jornada foi longa, intensa e encantadora. Restava tirar a foto de grupo, agradecer a disponibilidade e a hospitalidade exemplar da família Sousa, a parceria da Decante Vinhos e desejar-lhes felicidades.
O balanço é excelente, entre o convívio, as provas e a aprendizagem. Além do produtor, também a Bairrada e a casta baga ganharam notoriedade, reconhecimento e o respeito deste grupo de apreciadores de vinho. Em 14/07/2012, o combate a eventuais preconceitos ganhou novos adeptos.

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