Agosto também foi mês de férias dos nossos jantares. Estas pausas têm como consequência habitual um entusiasmo reforçado no regresso. Desta vez, uma pequena nuance alterou o panorama habitual: o nosso local de conspiração, Fusão Restaurante Lounge, estava encerrado para férias. Havia que colocar pés ao caminho e escolher a alternativa. Felizmente, a solução apareceu de forma muito rápida e natural. O Sr. João Silva, do Restaurante Gaveto, em Matosinhos, tem sido presença adiada nos nossos jantares, pelo que, de forma quase automática, estabelecemos os devidos contactos para avaliar a possibilidade de nos receber. A receptividade não poderia ser melhor e, em poucos dias, acertámos todos os pormenores que fizeram do Gaveto o primeiro local, além do Fusão, a receber um jantar do 4HM no formato tradicional. Se há decisões que se revelam acertadas, esta é uma delas. A recepção, o acompanhamento, o timing de serviço, entre outros aspectos, foram excelentes. O mais importante, a refeição, foi excepcional. Da entrada às sobremesas, tivemos oportunidade de experimentar do que melhor se faz na região, no segmento cozinha tradicional Portuguesa. Não faltaram vozes a manifestar intenção de voltar. Um sucesso.
Podemos explicar pela localização do Gaveto a pequena turbulência no arranque. Na verdade, já passava das 21h15m, quando a metade dos participantes presentes deu início ao evento. As garrafas para a entrada ainda estavam a caminho, logo, iniciámos com um branco. E muito bem, já que da Nova Zelândia chegou o primeiro riesling da noite, com um perfil um pouco guloso, a prometer não sobrar na garrafa de quem o beber. Os atrasos não foram totalmente comprometedores e o primeiro espumante estava pronto a ser servido de seguida. Início com Lopo de Freitas, Bairradino, que mostrou uma boa mousse e um perfil mais delicado. Seguiu-se o Quinta de Santa Cristina, que veio da região dos vinhos verdes e mostrou-se agradável e fresco. O arroz de tamboril estava a chegar e continuou o desfile dos brancos. A quinta de Santa Cristina volta à mesa, desta vez com um branco, cujos aromas de banana e acidez pouco vincada não fizeram lembrar a região (levantou-se a hipótese da garrafa poder não estar nas melhores condições). Novo riesling da Nova Zelândia, Ribbonwood, da mesma região de Marlborough, já com o toque mineral que caracteriza a casta; convenceu. A aproximação ao continente Europeu fez-se com escala em Cabo Verde. Terra de Fogo diz a garrafa de um vinho local, de uvas Moscatel, que se mostrou bem feito, perfil equilibrado e consensual; uma brisa de exotismo que mereceu aprovação. Mas o capítulo dos rieslings ainda não tinha terminado. Para fechar o painel de brancos, da Alsace chegou o branco da noite; vinho com mais volume e suavidade de corpo a conquistar os convivas.
Ainda havia muito para beber e era altura dos tintos mostrarem o seu valor. O arranque foi com um ribatejano de 2004, que acabou por ficar para segunda prova com o objectivo de poder respirar mais um pouco no copo. Venha, então, nova surpresa. Terras de Belmonte chegou da Beira Interior sob a forma de um vinho respeitador das regras kosher, ou seja, que pode ser consumido por crentes da religião Judaica. Muito bem feito, começou por agradar, para depois surpreender com a história que consigo trazia. Vem o Quinta de S. João 2004 de novo à baila e surgem nuances nas opiniões. À esperada diferença entre apreciadores ou não de vinhos mais evoluídos, juntou-se uma interessante reflexão sobre a evolução do vinho com a temperatura, em que alguns dos presentes preferiram a temperatura inicial, ligeiramente mais fresca. O tinto da noite, no entanto, ainda estava para vir. Desta vez, foi o Alentejano Blog 2009 que trouxe a excelência à mesa. Um belo vinho, que se apresenta pujante, concentrado e sofisticado. A título pedagógico e de curiosidade, ainda passou pela mesa um Ramisco de Colares. Colheita da década de 60, o seu tom acastanhado e os seus aromas a café proporcionaram momentos especiais de degustação e aprendizagem.
Ainda os últimos comentários sobre os tintos pairavam no ar e a sobremesa aparece com a companhia do primeiro fortificado da noite. Um Vinho do Porto com laivos esverdeados que não deixava margem para dúvidas: anos e anos de garrafa. A Real Companhia Velha produziu, há mais de 100 anos, um vinho chamado Particular Medalhas, que nos coube em sorte provar e deslumbrar com as boa forma e complexidade que apresentava. Foi um momento reverencial face ao que estava no copo. Ainda houve tempo para fechar a noite com um Bastardinho de Azeitão 30 anos. É um licoroso que nos deixa sem palavras, de tão complexo, completo e emocionante de provar. Quando a euforia de provar um vinho centenário parecia o topo, este grande vinho nacional vem mostrar que a excelência na zona de Azeitão não se fica pelos Moscatéis. Foi eleito o vinho da noite, mas não de forma unânime, porque o Porto também teve votos.
No final, descontração e imensa satisfação foram a tónica, face ao elevado nível das experiências vínicas e gastronómicas vividas na noite. Ficam as impressões de 12 convivas (vinhos em prova cega) ansiosos pelo final de Outubro para novo encontro.
Espumantes
S. Domingos Lopo Freitas: Cor citrina, aroma vegetal e cítrico. Suave, fresco e equlibrado, termina médio. Muito bom.
Quinta Sta. Cristina Bruto: Cor palha, aroma frutado. Suave e equlibrado, termina algo curto. Um espumante agradável.
Brancos
Villa Maria Riesling: Amarelo citrino, nariz frutado, vegetal e balsâmico. Na boca, é fresco, suave e equilibrado, mantendo o perfil do nariz até ao final médio. Bom vinho.
Ribbonwood Riesling: cor amarelo citrino, aroma frutado e mineral. Na boca, mostra-se suave, fresco e equilibrado. O final é médio para uma apreciação global de muito bom.
Chã Terra Fogo: cor amarelo palha, nariz frutado, com alguma especiaria. Suave, fresco e equilibrado, termina médio. Muito bom.
Hugel Riesling: cor amarelo palha, nariz frutado e mineral. Com bom corpo cremoso, fresco e equilibrado, mantém o seu perfil até ao final médio. Muito bom.
Tintos
Terras de Belmonte: cor rubi, essencialmente frutado no aroma. Na boca mostra corpo médio, frescura, taninos redondos e equilíbrio global. Final médio, para uma apreciação global de bom vinho.
Quinta S. João: cor rubi, nariz frutado e balsâmico. Na boca é suave, fresco, com taninos redondos e equilibrado. Final médio, para um vinho muito bom.
Blog: Cor rubi, complexo nos aromas, com fruta, especiarias e notas de madeira. Encorpado, fresco, com taninos redondos e equilibrado, tem um final longo. Completo e cheio de força, está excelente.
Sobremesa
Particular Medalhas: cor esverdeada, aroma complexo. Suave, fresco e equilibrado, termina longo, numa apreciação global de excelente.
Bastardinho de Azeitão: cor acobreada, nariz complexo, com nuances de frutos secos, mel, café... Encorpado, com acidez vibrante e equilibrado, termina longo. Excelente.
Nome Vinho
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Ano
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Tipo
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Castas
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Região
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Produtor
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Preço Prateleira
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Class.
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Villa Santa Dry Riesling | 2011 | Branco | Riesling | Nova Zelândia | Villa Santa | 12,00 € | 16,5 |
Lopo Freitas | 2008 | Espumante | Bairrada | Caves Solar S. Domingos | 17,50 € | 16 | |
Quinta Sta. Cristina Bruto | 2009 | Espumante | Vinhos Verdes | Garantia das Quintas | 8,00 € | 15 | |
Ribbonwood Riesling | 2011 | Branco | Riesling | Nova Zelândia | Framingham Wines | 12,00 € | 17 |
Chã Vinho do Fogo | 2011 | Branco | Moscatel branco | Cabo Verde | Viticultores de Chã das Caldeiras | 7,50 € | 15,5 |
Hugel Riesling | 2011 | Branco | Riesling | Alsace | Hugel & Fils | 16,00 € | 17,5 |
Terras de Belmonte | 2005 | Tinto | Jaen, Tinta Roriz, Touriga Nacional, Trincadeira, Rufete | Beira Interior | Adega Cooperativa Covilhã | 9,00 € | 14,5 |
Quinta S. João | 2004 | Tinto | Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz | Ribatejo DOC | Pinhal Torre | 20,00 € | 16 |
Blog | 2009 | Tinto | Touriga Nacional, Syrah, Alicante Bouschet | Regional Alentejano | Tiago Cabaço Wines | 25,00 € | 17,5 |
Particular Medalhas | Vinho do Porto | Vinho do Porto | Real Companhia Velha | 18,5 | |||
Bastardinho Azeitão 30 anos | Licoroso | Bastardo | Península de Setúbal | José Maria Fonseca | 70,00 € | 18,5 |
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